As chaves I


As chaves desapareceram. Não sei onde estão.
Mas foste tu a última pessoa que esteve com elas. Na outra noite fui eu quem abriu a porta, trazias a criança ao colo, mas ontem saíste para almoçar, não saíste?
Não, não saí. Menti-te para não te preocupar. Ou por egoísmo estúpido que é, provavelmente, o único motivo da mentira.
Que valor tem a verdade se uma mentira passa por sê-la?

A mentira tapa-me os olhos.
As chaves estiveram sempre à vista,
como a carta roubada
no conto de Poe.
A verdade ilumina.
Já a disse.
As chaves já podem aparecer.
Apareceram.

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